expressão voluntária

quarta-feira, junho 06, 2007

ARIANO, 80 ANOS !

No vigor pleno da sua intelectualidade e com seu carisma inabalável, Ariano Suassuna, consagrado autor de nossa literatura, chega aos 80 anos de idade. A genialidade desse homem é percebida em obras como “O Auto da Compadecida”, “O Santo e a Porca” e o “O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, esta última em destaque haja visto a minissérie que se inicia na próxima semana, uma adapção deste romance.
Ariano é antes de qualquer coisa um brasileiro que mantém suas raízes. Não é um matuto do nosso sertão, não é um homem rude ou de traços que externem qualquer composição de pessoa sofrida ou pobre. A verdade é que este paraibano nasceu em berço esplêndido, não passou fome e não precisou pegar em enxada.
Contudo, toda essa situação de vida não constrangiu a sensibilidade perceptiva e de observação integrantes da sua alma. A forma com que compõe seus personagens é única, posto que depreende-se destes um caráter inigualável no tocante à mágica expressão de suas personalidades. É incrível e magnífica a exploração das potencialidades dos seres imaginários (pena!) que integram suas histórias. A singularidade de personagens como o imortal “Chicó”, que em meio as condições de miséria do sertão consegue ser feliz e bem-humorado, traduz a maneira com que Ariano trabalha: com o pensar naquilo que fascina e ao mesmo tempo conta e denuncia as mazelas de quem vive em condições hostis. Como romancista e dramaturgo, é homem que exala criatividade.
Não bastasse a bibliografia que o consagra, trabalha hoje em um projeto que considera ser o mais significativo da sua vida: uma obra poética que visa à congruência da poesia, do romance e do teatro.
Manifesto aqui minha particular admiração por esse homem que marcou nossa literatura e contribuiu para a compreensão do nosso Brasil, da essência do ser brasileiro. Um gênio impagável.

sexta-feira, março 30, 2007

O problema todo é essa constante inconstância do ser humano. O querer, o ter, o não contentar-se. Se antes fosse seguro de si, de suas convicções e desejos, não seria assim, tão triste. Mas em tempos de soluções vastas, até mesmo essa inconstância de ser, do humano, delineou-se em resolução tangível e salutar. Vieram os entorpecentes, porque não viu graça em estar lúcido e em contato com o real. Os robôs e quinquilharias de toda a ciência moderna surgiram, pois é claro: sua natureza de sapiens o encomendou a virtude do querer ser Deus. Não obstante a esta inércia modernizante, o conhecimento adquirido por longo período, provou-lhe por “a” mais “b” a lógica do mundo, do constituir e do funcionar de quase tudo que o cerca. A isto reagindo de forma crédula, descreu de Deus. Apregoou, pois, a liberdade, e sobreveio-lhe a decadência moral. Sentiu-se livre para voar, elucidar idéias, aprazer-se em tudo, e de qualquer forma que fosse. Consentiu a promiscuidade, o homicídio, a falsidade, o golpe, a fortuna exacerbada, a fome, o ócio. Tendo o equilíbrio como alvo, pôs em evidência uma natureza desencontrada, incompreendida. Em meio a tudo, não se examinou e não percebeu, portanto, a existência latente de uma alma, que grita!

sábado, dezembro 16, 2006

É impressionante a percepção da efemeridade das coisas. Ainda ontem, ali no jardim que cercava a casa onde morei, havia uma castanheira que acompanhou meu crescimento por longo tempo. A coitada teve vida curta, foi esquartejada pelo meu pai antes mesmo de se tornar árvore vigorosa, cheia de pompa. Acontece que semelhante ao que ocorreu comigo, a “menina” (sempre tive a impressão de as árvores possuírem um quê feminino) cresceu e passou a incomodar. Sujava por demais o espaço que ocupava com todas aquelas castanhas, rígidas e desconfortáveis ao pé descalço. Vulnerável, a pobre da planta não suportou os golpes de machado que irromperam sobre seu tronco, seus galhos, sua vida. Foi-se, e exceto pra mim, não faz qualquer diferença. Também meu avô caminhou para o mesmo destino. O velho, um dia fora jovem, forte e robusto, cheio de coragem. Disse-me um dia seu filho, meu pai, que o homem não era pouca bosta. Sempre disposto a se impor, adquiriu tez bem séria, relevante até. Nasceu em berço bem pobre, e ao que tudo indica, além da falta de luxo, faltou-lhe também o amor. Já idoso tornou-se meu avô. O neto lhe agradara, mas a personalidade de homem macho, que confundia-se frequentemente com estupidez e grosseria, não lhe permitia o afeto explícito. Um dia se aproximou trazendo uma caixa de bombons vazia, na qual guardou durante anos toda gama de trecos (botões, agulhas de costura, tubos de linha) e sentou-se ao meu lado. Havia reparado que a criança ali brincava com um “motorzinho” à pilha e que a coisa só fazia girar um suporte metálico, sem qualquer utilidade. Astuto, percebeu que dali poderia sair uma hélice. Então recortou a caixa que a tanto o acompanhava nas tarefas do dia-a-dia. Talhou uma hélice muito bem feita no papel espesso da caixa, encaixou no tal suporte e entregou dizendo: “pra você, nunca te dei nada.” De fato, nunca havia me presenteado. Gesto bonito do cara, nunca me esqueci. Pouco tempo depois um derrame acometeu-lhe e passou a viver preso a uma cama. O homem enérgico que fora desapareceu. Durante anos agonizou e dependeu de cuidados diversos. Como a castanheira, morreu. Sua falta foi sentida com maior intensidade pela companheira, minha avó, a mesma que agrediu por toda a vida, que chifrou por toda a vida. O tempo, imutável, deixou-lhes, homem e árvore, enraizados no passado. Não voltam mais. A transitoriedade de tudo é um enigma, ninguém entende o porquê da vida insistir sempre em acabar. Simplesmente surge, mostra-se, e some.

terça-feira, dezembro 05, 2006

“Nasa planeja construir base permanente na Lua”, e daí?

Quando ouvimos termos que remetem à tecnologia espacial, logo nos lembramos da Nasa – gigante do setor, a maior e a mais notável há décadas – e ficamos contentes com a percepção de que o ser humano é de fato um ser incrível, com poderes galácticos. A nostalgia daquele 1967 ainda é contagiante, que belo, que estupendo chegarmos até a lua. Fora o acontecido mais uma manobra estratégica entre as várias ocorridas durante a quentíssima “Guerra Fria”, e a não ser a poderosa nação norte americana, ninguém mais lucrou com o êxito da missão. Contudo, enquanto o evento astronômico (em sentidos diversos) ocorria, homens, mulheres, jovens e crianças de todo o mundo ficavam paralisados frente à TV, embasbacados com o que viam. No dia seguinte ao sonho vivido, o pão continuava a ser escasso, a vida permanecia difícil, a miséria injustificável ainda era latente e o mundo não mudara, embora a lua ganhasse um nobre enfeite. Neste ponto, uma constatação. O Primeiro Mundo entende o desenvolvimento científico como preterível em relação ao humano. Os gastos com pesquisas cosmológicas superam qualquer subsídio à países periféricos. Nossa inquieta África, berço de civilizações antiqüíssimas, permanece em transe, cada vez mais doente e fraca, implorando por ajuda, por compaixão, por comida. A pólvora tempera um ambiente de conflitos, guerras, morte e incompreensão. A desorganização civil continua seu convívio cego com governos corruptos e escarnecedores. Ruandenses, etíopes, toda sorte de nativos da negra África Sub-saariana, em sua esmagadora maioria, não se situam em qualquer patamar que indique alguma dignidade.
Em meio ao caos, o ser humano ocidental parece não considerar os africanos como sendo de sua mesma espécie. E agora anuncia um plano de proporção considerável em relação ao progresso da exploração do espaço. Aqueles bilhões de dólares que poderiam humanizar e trazer algum alívio a milhões de seres humanos, serão utilizados para construção de uma base lunar. O homem olha para o espaço, e parece ignorar o que acontece bem ao seu lado. È inacreditável a forma como o ser humano perdeu a noção de solidariedade e compaixão quando um grupo de pessoas passou a conviver com a mesma noção de nacionalidade. Além das fronteiras da cultura, da etnia, da língua, existe um ponto de congruência entre todos os seres humanos da Terra. Mas é indiferente, afinal de contas, o capitalismo é mesmo selvagem.

domingo, maio 21, 2006

O rapaz, agora, sente-se homem. Aquele mundo velho, cheio de mágica e fantasia passa a transparecer um sentido que alucina, que dói. Quanto mais cresce e evolui, mais nefasta e empírica é sua concepção de mundo e de ser. Pobre indivíduo, que passou a viver e a sentir como os mais românticos poetas parisienses. Achou que o amor era coisa que trazia vida e que a dor era um fruto manso e passageiro. Quando percebeu que seu mundo era substancialmente menor que seu peito, que este inflado e inflamado coração neoplásico de rosas, enlouqueceu.

Lembro-me de vê-lo em uma tarde qualquer, estando lá, parado, inerte, com um ar catártico de quem parece que sozinho, começa a desvendar um mistério que é propriamente seu. O lugar pareceu-me um destes cafés que existem aos milhares espalhados por qualquer cidade de médio ou grande porte. Na xícara, uma bebida quente que parecia purificar-lhe a alma a cada gole. Um suspiro de alívio e satisfação a cada toque da peça com o pires.

15 minutos. O tempo cronológico compreendido entre a sua entrada, carregada de divagações – refletindo uma fisionomia pobre e sem brilho –, os devaneios que o fizeram sentir o prazer enigmático dos pensamentos que embelezam a alma e a sua saída elegante e imponente, que a ele deram o ar de homem novo, reciclado, refeito, forte. O culminar de uma transformação profunda.

É ele hoje, um desses homens especiais que são sensíveis à alma. Que entendem os limites. Que sabem adaptar o ser à vida que existe envolta no seu mundo de gente. Mas que em meio aos venenos perniciosos da carne também sabem aflorar sua essência poética.

sábado, abril 08, 2006

HIPOCRISIA: mal crônico que jaz impregnado sobremaneira em países subdesenvolvidos em educação, ética e política.
Exemplificação: Política brasileira em pleno século XXI. Hipocrisia em todos os seus ramos de influência. Fala-se em ética e moral nos palácios de Brasília. Fala-se, não faz-se nada. Há preocupações que se limitam á ação de preocupar-se. Feia, fedida, putrefata, asquerosa. Definição designada á maneira como age o governo local em relação aos setores mais primordiais de sua conjuntura política. Elite persuasiva, desonesta e muito esperta, ainda que burra. Campo fértil para a proliferação da hipocrisia.
+
PASSIVIDADE: conseqüência de uma incoerência entre o que se sente e deseja, e o que se faz.
Exemplificação: População brasileira em pleno século XXI. Expondo-a fatos que demonstram total desrespeito ao suor de seu trabalho, aceita tudo sem reclamar. Compreende, e aprende isto desde criança, que político padrão é o que rouba. Acha absurdo tudo que vê a respeito da corrupção no país. Não concorda, atitude normalíssima. No entanto se conforma, tudo é passível de ser aceitável. Em seu país não há compromisso com a educação, com a cultura, com a informação e muito menos com a transparência. Realidade que molda uma compreensível tendência á passividade.

=

VIOLÊNCIA / DESIGUALDADE / FOME / DESEMPREGO / SUBDESENVOLVIMENTO / ACULTURAÇÃO / MANIPULAÇÃO


P.S.: BRASIL – UM PAÍS DE TODOS (ISSO É PIADA?)

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Linda, estupidamente linda.
Inteligente, às vezes, só quando quer.
Sincera, até demais, chega a doer tanta sinceridade.
É causa e efeito dos meus mais íntimos conflitos.
Sua voz não soa, navega suave e imponente pelos ares até meus ouvidos.
Seu corpo, escultura belíssima, resplandece a barro, naturalmente.
Seus passos, ahhh! Os passos! Trazem consigo incertezas, desejos e contendas.
E a boca? Dela escorre um manar doce, pastoso até, parece mel, talvez o seja.
Olhos, de tão grandes e vivos, emocionam o aventureiro que se presta a encará-los.
Nunca fizemos nem tivemos amor.
Queríamos que o sentimento brotasse, mas de mau, não brotou.
Hoje há tristeza, há mágoa, há rancor.
Queremo-nos bem, um bem-querer com limites.
Disse-me um dia: “viver e amar andam juntos?”, “sim”, respondi.
Hoje, diria: “claro ! Olhe pra mim,vivo incompleto, pela simples ausência de qualquer dos dois verbos”.